terça-feira, 20 de novembro de 2007

Dançar à chuva


Estou assim… como o tempo, chuvosa. Nostálgica…
Se não arriscasse chegar ao trabalho completamente encharcada (o que não dava muito jeito), hoje não tinha sequer aberto o guarda-chuva.
Apetecia-me deixar aquele ‘dilúvio’ cair sobre mim, sentir o cheiro da rua molhada, não ligar à pressa das pessoas no caminho das suas rotinas. E recordar tempos felizes…

Lembrei-me de, há muitos anos, eu e o meu então namorado João termos sido apanhados de surpresa por uma chuvada imprevisível e nos termos refugiado debaixo do toldo de um quiosque, num miradouro em Alfama. De um bar ali perto, saía o som de uma música qualquer. De repente, levantei-me: “Vamos dançar!”. Respondeu-me com um olhar atónito: - “Estás doida? Se apareces encharcada em casa, os teus pais vão-se passar!”
“Não me interessa!”
, disse, no meu tom teimoso. Puxei-o para mim, e dançámos naquele miradouro, com Lisboa como testemunha, e cada vez que rodopiávamos, a água dançava com os nossos passos. Houve quem parasse, para olhar e certamente comentar aquele ‘disparate de adolescentes’. Outros terão pensado na ternura daquela cena, tão cinematográfica, mesmo desconhecendo que fora um acto de pura espontaneidade.
A música parou e nós continuámos a dançar, ao som da chuva e ao ritmo dos nossos corações. Não sei quanto tempo ali ficámos…

Regressámos, calados, de mãos dadas, com um sorriso e uma recordação impossíveis de apagar. Quando me deixou à porta de casa, deu-me um beijo (molhado, claro está!) e disse-me que, a partir daquele dia, ia chamar-me “mulher da chuva”.
Confesso que não me lembro se levei um raspanete dos meus pais por ter chegado a casa ‘encharcada que nem um pinto'! Mas não trocaria aquele momento por nada.

Sinto saudades de namorar como antes, passear de mãos dadas, sentir aquele ‘frio na barriga’, ter a ingenuidade de acreditar que aquela paixão é para sempre, passar horas ao telefone sem que nenhum dos dois queira desligar primeiro, rir de coisas parvas e dançar à chuva…

3 comentários:

Freckles disse...

Eu acho que tens que fazer, na vida, o que fizeste nesse dia...'cagar' na protecção do guarda-chuva e permitir que o dilúvio chegue até ti... Quem não anda à chuva pode não se molhar mas também nunca vai sentir aquele friozinho nos pés, na barriga, na alama.
Esquece o guarda-chuva...arrisca molhar-te. Pode ser que te constipes e tenhas dores depois, mas também pode ser que apareça um quiosque no meio do nada para te proteger e uma melodia que te faça feliz:)
Adoro-te

Pi disse...

Para a frente é que é o caminho... Um caminho que será feito de dias chuvosos, dias de sol, de frio, de muito calor... E apesar das memórias fazerem de nós quem somos hoje, não devemos viver demasiado agarradas a elas... Caminha sem medo... mas sempre em frente... Não tardará muito para que sejas surpreendida. Ainda te esperam muitos dias de chuva como esse que descreves.
Mas, como fiz a Freckles, se andar sem guarda-chuva... ajuda;)

Anónimo disse...

Muito lindo é viver e poder degustar a vida...