terça-feira, 22 de abril de 2008

Relógio sem ponteiros


Hoje, no caminho de regresso a casa, fui interpelada por uma velha mullher. Tinha a vida vincada no rosto, um olhar perdido. Vestia um casaco comprido, mal abotoado, e segurava com firmeza a mala contra o peito. Encostada a uma parede, parecia temer as pessoas que caminhavam apressadas, ignorando-a. Talvez eu a tenha olhado com ternura, ou o sorriso que inconscientemente esboçei, lhe tenha dado coragem para me falar: - "A menina desculpe...mas sabe que dia é hoje?"
Confesso que a pergunta me surpreendeu, mas logo senti o seu embaraço e angústia. Olhei-a com compreensão e respondi-lhe, quase em surdina, num tom cúmplice, como se partilhássemos um segredo: -"Hoje é 3ª feira, dia 22 de Abril."
Entre palavras de agradecimento e lágrimas enxugadas com um lenço primorosamente dobrado, confessou-me que se esquecia do tempo. E só do tempo.
- "Sou um relógio sem ponteiros..."

Antes de nos separarmos, perguntou o meu nome e prometeu não se esquecer de mim. Talvez já nem se lembre... Eu sei que nunca mais a vou apagar da minha memória. Vai-me sempre recordar que o tempo não pára, mesmo que viva 'adormecida'. E que, mesmo que não queira, os 'ponteiros do meu relógio' vão girar, e girar...e o tempo vai acabar por apanhar-me.

domingo, 13 de abril de 2008

Telepatia?!


Tomei um banho de imersão, acendi incenso e velas, pus a tocar aquele cd de que não me canso, abri uma garrafa de vinho do Porto, e recostei-me no sofá.
Dei conta que, mesmo inconscientemente, repeti a nossa rotina, os nossos gestos de fim de tarde... há tanto tempo adormecidos...

Fiz um esforço para me alhear, e não me deixar envolver nesta nostalgia quente, que me empurra para memórias com sabor a mel. Tentei ler um livro, mas a história que me passava pela mente era a nossa, as letras simplesmente pareciam mutáveis e transformavam-se em palavras que te disse um dia...
Fechei o livro e liguei a televisão. No meio de um zapping frenético, decidi-me por um filme qualquer, sobre lobisomens. "Ok, isto vai distrair-me!", pensei. Nem 5 minutos passados, constato que o protagonista tem o teu nome, e ainda por cima é parecido contigo! Não é possível!...
Televisão desligada. Virei-me para o computador. Há muito que queria organizar ficheiros, fazer back-ups de documentos importantes, etc. A tarefa adivinhava-se chata e, portanto, capaz de me preencher a cabeça com algo mundano e afastar este 'aperto' no coração. Enquanto arrumava papelada, o impensável aconteceu novamente! Ali estava um cd antigo, que pensava esquecido, cheio de fotografias nossas! Não resisti. E cada imagem que surgia diante dos meus olhos, fez-me regressar ao passado, sentir o teu cheiro, ouvir a tua voz, reviver momentos...

De repente, 'apoderaste-te' de mim, como uma urgência emocional e não consegui mais afastar-te do meu pensamento. "Como é que ele estará? Sentirá a minha falta? Porque é que não..."
Subitamente, o telemóvel deu sinal de mensagem e eu despertei daquele torpor mental. Por muito pouco tempo. As minhas mãos tremeram e o meu corpo gelou. A mensagem era tua...
Telepatia?!...

terça-feira, 8 de abril de 2008

Cúmplice procura-se


Estou à espera que o amor aconteça. Por mais que esteja rodeada da família, de bons amigos, bons livros e óptimos programas, sinto a falta de um companheiro.
O problema é que, apesar de estar cansada de estar sozinha, não quero diminuir as exigências que fazem parte da minha lista. Habituei-me às vantagens da vida a solo: a independência, as decisões rápidas e não discutidas, a casa só para mim, as manhãs de domingo com uma toalha enrolada na cabeça... Abrir mão disso, só por um homem que realmente valha a pena!
Não preciso de um homem para me dar aquilo que já tenho - casa, dinheiro, viagens... Quero alguém que caminhe a meu lado, que me entenda e respeite. Quero um homem que eu admire, que me faça rir.

Cúmplice, procura-se...