Tomei um banho de imersão, acendi incenso e velas, pus a tocar aquele cd de que não me canso, abri uma garrafa de vinho do Porto, e recostei-me no sofá.
Dei conta que, mesmo inconscientemente, repeti a nossa rotina, os nossos gestos de fim de tarde... há tanto tempo adormecidos...
Fiz um esforço para me alhear, e não me deixar envolver nesta nostalgia quente, que me empurra para memórias com sabor a mel. Tentei ler um livro, mas a história que me passava pela mente era a nossa, as letras simplesmente pareciam mutáveis e transformavam-se em palavras que te disse um dia...
Fechei o livro e liguei a televisão. No meio de um zapping frenético, decidi-me por um filme qualquer, sobre lobisomens. "Ok, isto vai distrair-me!", pensei. Nem 5 minutos passados, constato que o protagonista tem o teu nome, e ainda por cima é parecido contigo! Não é possível!...
Televisão desligada. Virei-me para o computador. Há muito que queria organizar ficheiros, fazer back-ups de documentos importantes, etc. A tarefa adivinhava-se chata e, portanto, capaz de me preencher a cabeça com algo mundano e afastar este 'aperto' no coração. Enquanto arrumava papelada, o impensável aconteceu novamente! Ali estava um cd antigo, que pensava esquecido, cheio de fotografias nossas! Não resisti. E cada imagem que surgia diante dos meus olhos, fez-me regressar ao passado, sentir o teu cheiro, ouvir a tua voz, reviver momentos...
De repente, 'apoderaste-te' de mim, como uma urgência emocional e não consegui mais afastar-te do meu pensamento. "Como é que ele estará? Sentirá a minha falta? Porque é que não..."
Subitamente, o telemóvel deu sinal de mensagem e eu despertei daquele torpor mental. Por muito pouco tempo. As minhas mãos tremeram e o meu corpo gelou. A mensagem era tua...
Telepatia?!...