segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O gancho de cabelo


Hoje de manhã, enquanto mudava de mala, encontrei uma coisa que já não via há muito tempo. Numa bolsinha, bem lá no fundo, estava esquecido um gancho de cabelo. Reconheci-o de imediato, porque foi a última prenda que me deste. Tinha-lo trazido das Bahamas, e lembro-me das tuas palavras. Disseste - “Quando o vi, pensei logo em ti. Tem conchas, daquelas que vivem muito tempo debaixo do mar, mas que um dia, a maré as traz à praia. Como o Destino, que um dia te trouxe até mim...”
Como gosto de ter sempre algo com que agarrar o cabelo, trouxe o gancho comigo. Mas houve um pensamento que, desde esse segundo, não mais me abandonou. “Tudo é feito de energia, e este simples objecto guarda sensações e memórias de um tempo que já passou, de um capítulo da minha vida que chegou ao fim.”

Com o começo do dia e as tarefas rotineiras, acabei por me esquecer daquilo. Até que, inevitavelmente, prendi o cabelo, como é costume.
Pois bem: o facto é que o tal gancho passou o dia todo a cair-me! Por muitas maneiras que eu prendesse, aquilo saltava sempre! O curioso é que nunca tal tinha acontecido antes!...

No fim do dia, olhei para ele e reparei que, numa das vezes que se soltou e caiu ao chão, partiu-se um bocadinho daquelas conchas, as tais que te fizeram pensar em mim, e numa analogia romântica, ‘personificavam’ o amor que nos unia...

Moral da história?
Os objectos são os mesmos, as pessoas também... mas os significados mudam e as vidas tomam rumos diferentes....

4 comentários:

Lua disse...

Lindo...

Freckles disse...

Muito bom texto, nada a que não nos tenhas já habituado. Profundo, talvez lacónico para alguns... Sei de quem falas, sei de que sentimento falas...sei que foi bom uns tempos, não todos os que durou, sei que tiveste que fazer um esforço de gigante para te esqueceres desse gancho, e de outros, no fundo das gavetas e das malas do teu coração. Mas sabes o que é bom? É que te esqueceste mesmo dos objectos, como apagaste do teu coração uma pessoa que já não te fazia bem.
As pessoas deixam de ter a ver connosco, inexplicavelmente, quer mudem ou não. Os sentimentos mudam, quer as pessoas mudem quer não. Os objectos mudam, no significado que têm para nós por causa de quem os deu.
É óptimo que te tenhas livrado desse 'gancho', ainda que eu não esteja certa que os pedacinhos de concha não estejam a ser re-unidos...com uma cola que já perdeu a validade...

Pi disse...

Ontem quando li o texto pela primeira vez não me senti logo capaz de o comentar... estava cansada e precisava pensar, de sentir o que me transmitia...
Hoje... depois de ler o cometário da Freckles... sinto que tenho que te dizer que deves guardar esse "gancho", mesmo que já não te prenda o "cabelo" (leia-se coração) como antes... Nada acontece por acaso... Se calhar tinhas que te lembrar dessa pessoa neste momento... Se calhar (e esta é a minha aposta) tinhas que te lembrar do que já foste e do que já passaste... para te dar conta que o tempo passou, que hoje és outra pessoa e tens que dar outro rumo à tua vida.

Os obejectos têm energia , como tu própria disseste. Uma energia que deve ser interpretada e ninguém melhor do que tu saberá... o que esse "gancho" te transmite...

Seja qual for o rumo que decidires dar à tua vida eu estarei na mesma estrada. Sempre que olhares pra trás conseguirás ver-me. Sempre que precisares de "dar" a mão... encontrarás a minha;)

Unknown disse...

Sabes que tenho vestido hoje um casaco castanho de malha velho. Muito velho. Visto-o sempre no Inverno quando chego a casa - e estou sozinho porque acompahado gosto de manter um charme - Quanto o visto fico confortável. Não te vou dizer de onde veio, que o blog é publico e eu também (graças a Deus) mas depois de lavado muitas vezes já não tem o cheiro que um dia, sentado numa espalanada no chiado me chamou a atenção e me fez voltar ao mesmo lugar outro dia. Outro. E outro até o cheiro se cruzar com o meu. Agora que te leio, reparo que o velho casaco castanho, já só me aquece o corpo. Houve tempos em que a alma fervia por ele. Por este casaco que, tal como o teu gancho, marcou uma altura da minha vida. não tenho saudades de quem vestia o casaco e o perfumava. Tenho saudades de mim, porque nessa altura não sabia ainda que o choque de dois perfumes fortes deixavam marcas tão profundas na carne.

beijo
Eu, Cláudio!