quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Envolvida em nós


Gosto de ti. E não sei como isto aconteceu. O hábito de falar contigo transformou-se em necessidade.
A vontade de ver-te tornou-se urgência. A tua voz passeia na minha cabeça o dia inteiro.

Gosto muito de ti. E só o percebi totalmente nestes últimos dias.
A distância fez-me reflectir e a serenidade obrigou-me a sentir. Com todo o tempo do mundo nas minhas mãos, ocupaste a maioria dos meus pensamentos, roubaste-me sorrisos indiscretos e olhares demorados.
Estive em dezenas de sítios diferentes e em cada um desejei que ali estivesses. Trouxe-te mentalmente até mim, mostrei-te tudo o que estava a ver, o que me faz vibrar.

Gosto tanto de ti. Se assim não fosse, o meu coração não teria doído quando compreendi, de forma crua, que a realidade é outra. Não teria chorado por ter que aceitar que ‘querer não é poder’.
Deixei o meu coração desafiar a lógica. E a verdade revelou-se incómoda.
Mas quando já se está tão envolvida em nós, como eu estou, o melhor é saborear cada instante em que não só queremos, como podemos. E esses instantes acabam por valer avassaladoramente mais…muito mais.

Já te disse que gosto de ti?...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Tiras-me o sono!


Tiras-me o sono.
Cancelas-me a sensatez, porque me perturbas a mente.
Levas-me o cansaço, porque me inquietas o corpo.
Toldas-me a razão, porque me confundes a vontade.
Ofuscas-me o raciocínio, porque me atrapalhas as emoções.
Dificultas-me as decisões, porque me baralhas os sentidos.
Enredas-me a vida, porque me negas a verdade.
Aproximas-me de ti, porque me invades o pensamento.
Distancias-me de ti, porque me recusas o desejo.

Tiras-me o sono.
E, mesmo quando durmo, avassalas-me os sonhos…

domingo, 13 de setembro de 2009

Um ano depois...


Um ano depois, nada mudou e, no entanto, tudo está diferente.
O comboio da vida continuou a sua viagem, e por muito que mude de lugar, o bilhete é sempre só de ida. São permitidas algumas saídas em apeadeiros que se tornam imperativos, ou simplesmente imprevisíveis, mas inevitáveis.
Ganhei alguns companheiros de jornada. Uns ainda me acompanham, outros escolheram encurtar o percurso e sair na estação mais próxima. E há aqueles que nunca saíram do meu lado e me emprestam o ombro para encostar a cabeça, quando o cansaço ou a tristeza me vencem.

Tentei sempre que cada pôr-do-sol me levasse as amarguras e desilusões do meu dia. E que cada novo amanhecer fosse uma nova possibilidade de recomeçar o que julguei perdido.
Nunca deixei de acreditar que viver é ser livre. Que ter amigos e família que me amam é uma bênção, que lutar é necessário para me manter viva, por dentro e por fora.
Aprendi que o tempo não cura tudo, mas que a mágoa passa e a dor me fortalece. Que as decepções não matam, que hoje é o reflexo do ontem, que a verdade permanece, por muito que a queiram esconder ou destruir.
Um ano depois, compreendi que sonhar não é fantasiar, que a beleza não está no que vejo, mas sim no que sinto e que o segredo é viver em busca da felicidade.

Um ano depois, nada mudou e, no entanto, tudo está diferente.
A viagem continua…

sábado, 13 de setembro de 2008

Quando menos se espera...


Quando menos se espera, a Vida dá-nos uma daquelas bofetadas tão fortes que juramos sentir a marca dos dedos na cara. Quando menos se espera, a Desilusão atira-nos um balde de água tão fria, que nos tira a respiração.
E nós deixamos de acreditar... Porque, quando menos se espera, a Injustiça vem e penhora todos os nossos sonhos. E sentimo-nos defraudados.

Mesmo assim, não desistimos, não deixamos de sonhar.
E, quando menos se espera, um céu nublado transforma-se numa paleta de cores e faz-nos respirar fundo outra vez. A Vida acontece. E apetece-nos olhar para o desconhecido, arriscar o improvável, apostar no imprevisto.

Quando menos se espera, a Vida dá-nos um sorriso diferente…

domingo, 24 de agosto de 2008

Um sopro...

Costuma dizer-se que o tempo cura tudo, que a saudade diminui com o passar dos anos. Não é verdade... pelo contrário.
A ausência de quem se ama, somada à certeza de que neste mundo não nos voltaremos a encontrar, abre feridas cada vez mais profundas, dores dilacerantes, sem nenhum remédio.

Vim para a praia. Com a ténue esperança de que o sol me consiga aquecer o coração e secar as lágrimas que teimam em cair.
Estava a observar uma família. A mãe soprava para dentro de uma bóia, perante a impaciência do filho, que insistia em ir depressa para a água.
E então, ocorreu-me uma ideia muito estúpida. Ou talvez não...
Gostava tanto que tivesses deixado bóias, colchões, bolas cheias com o ar que respiraste! Seriam uma espécie de lâmpada de Aladino, mas não para satisfazer desejos.

Simplesmente para, quando a saudade apertasse mais, eu poder desapertar o pipo, aproximar a boca...e inspirar um bocadinho do teu ar, do teu sopro de vida...

(Parabéns, Mana...)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Indestrutível


Quanto maiores são as tuas barreiras, mais alta eu me torno.
Quanto mais pedras colocas no meu caminho, mais depressa eu corro.
Quanto mais tempestades crias, mais bonança me ofereces.
Quanto mais te recusas a ouvir a minha voz, mais alto vou gritar.
Quanto mais me tentas apagar, mais brilhante é a minha luz.
Quanto mais me negas, mais forte é a minha lembrança.
Quanto mais apertadas são as tuas amarras, mais livre eu me sinto.
Quanto mais pungente for a tua punhalada, mais ilesa sairei.
Quanto mais ardilosas são as tuas mentiras, mais clara é a verdade.
Quanto mais sórdidos são os teus enganos, mais rasgado é o meu riso.
Quanto mais mesquinha é a tua inveja, maior é o meu sucesso.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Novas alvoradas


Por vezes é bom parar…pensar…sentir… Descobrir o que nos faz disparar o coração e o que nos adormece por dentro… Se as coisas nos sabem ao mesmo, ou se somos capazes de novos paladares… Se a memória guardou sons e imagens que não queremos esquecer, ou se já se perderam na escuridão da nossa mente… Se o céu estrelado ainda nos encanta, ou se já não acreditamos em estrelas cadentes… Se a felicidade dos outros nos preenche, ou se nos inquieta… Se nos deixamos embalar pelas ondas, ou se o medo do mar é mais forte… Se conseguimos saborear o domingo sem pensar na semana que aí vem… Se a nossa gargalhada é o eco da nossa alma… Se os nossos sonhos não são de faz-de-conta…

Se depois desta viagem ao mais profundo de nós mesmos, aos bastidores do nosso coração, ainda nos sentirmos fascinados pela vida, é porque tudo vale a pena.
E não é que vale mesmo?!...

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Mas o que é que se passa comigo?!


Ando a tentar perceber-me… Sinto-me inquieta, nervosa, passo o dia com um nó na garganta que me sufoca e chega a gelar-me o coração.
Não consigo organizar a minha mente, ordenar os meus pensamentos. 

Sinto-me cansada, logo irritada. Falta-me serenidade para aceitar aquilo que não posso mudar, não me conformo com o que não está bem, quero derrubar muralhas, mas a força do pensamento e da alma ainda não movem montanhas…
Sei que inquieto as pessoas que me amam, que preocupo quem me quer bem, que causo estranheza em quem se habituou a ver-me sempre com um sorriso na cara. Como hoje, quando alguém me segredou que eu estava com um olhar triste…

A todos aqueles que se importam, deixem-me pedir desculpa, mas ando absorvida em mim mesma. Sou uma solitária e, de vez em quando, preciso de tomar chá com a minha consciência para decifrar alguns enigmas. E por isso tenho andado ausente.

A Vida está a desafiar-me novamente. E eu tenho que ir a jogo.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Relógio sem ponteiros


Hoje, no caminho de regresso a casa, fui interpelada por uma velha mullher. Tinha a vida vincada no rosto, um olhar perdido. Vestia um casaco comprido, mal abotoado, e segurava com firmeza a mala contra o peito. Encostada a uma parede, parecia temer as pessoas que caminhavam apressadas, ignorando-a. Talvez eu a tenha olhado com ternura, ou o sorriso que inconscientemente esboçei, lhe tenha dado coragem para me falar: - "A menina desculpe...mas sabe que dia é hoje?"
Confesso que a pergunta me surpreendeu, mas logo senti o seu embaraço e angústia. Olhei-a com compreensão e respondi-lhe, quase em surdina, num tom cúmplice, como se partilhássemos um segredo: -"Hoje é 3ª feira, dia 22 de Abril."
Entre palavras de agradecimento e lágrimas enxugadas com um lenço primorosamente dobrado, confessou-me que se esquecia do tempo. E só do tempo.
- "Sou um relógio sem ponteiros..."

Antes de nos separarmos, perguntou o meu nome e prometeu não se esquecer de mim. Talvez já nem se lembre... Eu sei que nunca mais a vou apagar da minha memória. Vai-me sempre recordar que o tempo não pára, mesmo que viva 'adormecida'. E que, mesmo que não queira, os 'ponteiros do meu relógio' vão girar, e girar...e o tempo vai acabar por apanhar-me.

domingo, 13 de abril de 2008

Telepatia?!


Tomei um banho de imersão, acendi incenso e velas, pus a tocar aquele cd de que não me canso, abri uma garrafa de vinho do Porto, e recostei-me no sofá.
Dei conta que, mesmo inconscientemente, repeti a nossa rotina, os nossos gestos de fim de tarde... há tanto tempo adormecidos...

Fiz um esforço para me alhear, e não me deixar envolver nesta nostalgia quente, que me empurra para memórias com sabor a mel. Tentei ler um livro, mas a história que me passava pela mente era a nossa, as letras simplesmente pareciam mutáveis e transformavam-se em palavras que te disse um dia...
Fechei o livro e liguei a televisão. No meio de um zapping frenético, decidi-me por um filme qualquer, sobre lobisomens. "Ok, isto vai distrair-me!", pensei. Nem 5 minutos passados, constato que o protagonista tem o teu nome, e ainda por cima é parecido contigo! Não é possível!...
Televisão desligada. Virei-me para o computador. Há muito que queria organizar ficheiros, fazer back-ups de documentos importantes, etc. A tarefa adivinhava-se chata e, portanto, capaz de me preencher a cabeça com algo mundano e afastar este 'aperto' no coração. Enquanto arrumava papelada, o impensável aconteceu novamente! Ali estava um cd antigo, que pensava esquecido, cheio de fotografias nossas! Não resisti. E cada imagem que surgia diante dos meus olhos, fez-me regressar ao passado, sentir o teu cheiro, ouvir a tua voz, reviver momentos...

De repente, 'apoderaste-te' de mim, como uma urgência emocional e não consegui mais afastar-te do meu pensamento. "Como é que ele estará? Sentirá a minha falta? Porque é que não..."
Subitamente, o telemóvel deu sinal de mensagem e eu despertei daquele torpor mental. Por muito pouco tempo. As minhas mãos tremeram e o meu corpo gelou. A mensagem era tua...
Telepatia?!...